Thursday, October 20, 2011

mas também

o orbe
a órbita
o mar do teu olhar
da outra cor que o mar
bem podia ter

profundo esse teu espelho de sentir
a sentir (sinto)
que estás aí à porta
antes de respirar
respirarmos
o mesmo ar

quem havia de ser?
só podia
só podias ser tu

Tuesday, October 5, 2010

números

está quase nos 90 e há 55 perdeu a irmã mais velha as 2 eram inseparáveis as últimas de 15 irmãos ele tinha 4 e a partir dos 6 sempre veio a sentir muito a falta fugiu aos 18 andou perdido e achado e ontem percebeu como talvez nunca antes o que é perder uma pessoa quando se tem 34 em vez de menos 30 mas lembrou-se de como a mãe continuou a trazê-lo ao colo durante 54 e há uns meses (6?) sentiu que ela tinha finalmente partido e disseram-lhe é que agora está descansada contigo e ele espera que seja isso pelos seus +/- 15 de prazo de validade vai com deus e ontem doeu e doeu mas hoje esta página rasgada a mais de 90 decibeis e ele é hoje e hoje é ele e entende o que sente por mulheres - com filhos - que andam pela idade dela há 50 tudo na linguagem quente e húmida daqueles

Sunday, October 3, 2010

epigraph epitaph

em vez do que lá está agora lia-se so little time so much to live picado do Nowhere Man do Yellow Submarine. é só pra ficarem a saber.

sábador

procurei as tuas asas n' areia

(pareceu-me que podias ter feito escala)

encontrei duas madrepedrinhas que vieram

com a roupa p'ra lavar

o magalhães

eu

hojamanhã há mais

Friday, October 30, 2009

Treppen der Nacht

Liebe nicht wenn Regen!
Regen sieht nicht.
Atme nicht wenn Dunkel!
Dunkel erstickt.
Lache nicht wenn Stille!
Stille trauert.
Lebe nicht wenn Zeit!
Zeit nimmt.

Bleibe!
Der Mann mit den nassen
Händen schaut zu dir her.
Schau nicht. Seine Hände
sind alt.

Warte!
Pyramiden waren
nicht auf Anhieb stabil.
Die Steine, die fallen,
sind hart.

Stehe!
Die Frau mit den schmalen
Lippen fällt Urteile.
Genüge ihr nicht, sie
verfehlt.

Liege!
Laß deine Schenkel Bahn
sein. Am anderen Tag
widerlegte dein Fleisch
Gottes Fluch.
Hoffe!
Die Betenden blenden im
Zorn die Verzweiflung.
Weiß sind die Knochen, wenn
Sonne sie sieht.

Ende!
Kein Anfang hat Trost
für die Sache des Glücks.
Auf die Treppen der Nacht mündet
strauchelnd ein Fluß.

Susanne Sarfatti

Monday, August 31, 2009

Noturno motard (Nacht und Traum)

Vou atrás do farol, vou por onde

Até onde ele me puxa e vai

Ele conduz e é ele a pensar

Na escapatória no derrapar

Das tuas mãos soltas dos meus flancos

A ficarem p’ra trás sem sequer um adeus.

Desembarcar não precisa de mar, basta uma atitude

Desembarcaste algures e não por minha mão.


Por mim posso sempre travar e aguardar

O hastear do sol

O inflamar dos vidros na labareda

Sobre aldeias rápido invisíveis

Até posso ficar-me por aqui

A vaguear até que a vida aperte

E a saudade recobre da anestesia.

Posso, se a sorte o decidir

Deslizar a encosta em ponto-morto

Ou gemer em primeira ao encontro

Do corta-fogo por desvendar

Ferida entre o verde por rasgar

Onde só águas erram no inverno.


Foi-se abaixo, as tuas mãos ficaram lá atrás

Lá onde o teu rosto me perdeu na noite

Lá onde a lembrança ainda me chama

A beber do teu corpo entrelunar.

Pouco mais resta que dormir, acordar

sentir o ramo mais alto a cantar

À ternura do vento.

Canta p’ra mim que não tenho que diga

Fez-se manhã, é pouca a gasolina

Apenas faço por seguir a luz.

Thursday, August 6, 2009

fátua

é p' la noite mais alta que te sinto
quando me vestes a lua de silêncio
e me escorres um calafrio imenso
a impedir a tua à minha pele

não entendo se vens via do vento
não percebo se transportas o escuro
sei que a lembrança não passa de um intento
de virar o passado pró futuro

e é assim uma música ao longe
o teu nulo perfume o meu desejo
a desferir a dor que me acendeste

nada trago dentro porque nada me deste
mas guardo algures o luar que te invento
um dia o sol dirá se prevalece