Monday, August 31, 2009

Noturno motard (Nacht und Traum)

Vou atrás do farol, vou por onde

Até onde ele me puxa e vai

Ele conduz e é ele a pensar

Na escapatória no derrapar

Das tuas mãos soltas dos meus flancos

A ficarem p’ra trás sem sequer um adeus.

Desembarcar não precisa de mar, basta uma atitude

Desembarcaste algures e não por minha mão.


Por mim posso sempre travar e aguardar

O hastear do sol

O inflamar dos vidros na labareda

Sobre aldeias rápido invisíveis

Até posso ficar-me por aqui

A vaguear até que a vida aperte

E a saudade recobre da anestesia.

Posso, se a sorte o decidir

Deslizar a encosta em ponto-morto

Ou gemer em primeira ao encontro

Do corta-fogo por desvendar

Ferida entre o verde por rasgar

Onde só águas erram no inverno.


Foi-se abaixo, as tuas mãos ficaram lá atrás

Lá onde o teu rosto me perdeu na noite

Lá onde a lembrança ainda me chama

A beber do teu corpo entrelunar.

Pouco mais resta que dormir, acordar

sentir o ramo mais alto a cantar

À ternura do vento.

Canta p’ra mim que não tenho que diga

Fez-se manhã, é pouca a gasolina

Apenas faço por seguir a luz.

Thursday, August 6, 2009

fátua

é p' la noite mais alta que te sinto
quando me vestes a lua de silêncio
e me escorres um calafrio imenso
a impedir a tua à minha pele

não entendo se vens via do vento
não percebo se transportas o escuro
sei que a lembrança não passa de um intento
de virar o passado pró futuro

e é assim uma música ao longe
o teu nulo perfume o meu desejo
a desferir a dor que me acendeste

nada trago dentro porque nada me deste
mas guardo algures o luar que te invento
um dia o sol dirá se prevalece