Friday, October 30, 2009

Treppen der Nacht

Liebe nicht wenn Regen!
Regen sieht nicht.
Atme nicht wenn Dunkel!
Dunkel erstickt.
Lache nicht wenn Stille!
Stille trauert.
Lebe nicht wenn Zeit!
Zeit nimmt.

Bleibe!
Der Mann mit den nassen
Händen schaut zu dir her.
Schau nicht. Seine Hände
sind alt.

Warte!
Pyramiden waren
nicht auf Anhieb stabil.
Die Steine, die fallen,
sind hart.

Stehe!
Die Frau mit den schmalen
Lippen fällt Urteile.
Genüge ihr nicht, sie
verfehlt.

Liege!
Laß deine Schenkel Bahn
sein. Am anderen Tag
widerlegte dein Fleisch
Gottes Fluch.
Hoffe!
Die Betenden blenden im
Zorn die Verzweiflung.
Weiß sind die Knochen, wenn
Sonne sie sieht.

Ende!
Kein Anfang hat Trost
für die Sache des Glücks.
Auf die Treppen der Nacht mündet
strauchelnd ein Fluß.

Susanne Sarfatti

Monday, August 31, 2009

Noturno motard (Nacht und Traum)

Vou atrás do farol, vou por onde

Até onde ele me puxa e vai

Ele conduz e é ele a pensar

Na escapatória no derrapar

Das tuas mãos soltas dos meus flancos

A ficarem p’ra trás sem sequer um adeus.

Desembarcar não precisa de mar, basta uma atitude

Desembarcaste algures e não por minha mão.


Por mim posso sempre travar e aguardar

O hastear do sol

O inflamar dos vidros na labareda

Sobre aldeias rápido invisíveis

Até posso ficar-me por aqui

A vaguear até que a vida aperte

E a saudade recobre da anestesia.

Posso, se a sorte o decidir

Deslizar a encosta em ponto-morto

Ou gemer em primeira ao encontro

Do corta-fogo por desvendar

Ferida entre o verde por rasgar

Onde só águas erram no inverno.


Foi-se abaixo, as tuas mãos ficaram lá atrás

Lá onde o teu rosto me perdeu na noite

Lá onde a lembrança ainda me chama

A beber do teu corpo entrelunar.

Pouco mais resta que dormir, acordar

sentir o ramo mais alto a cantar

À ternura do vento.

Canta p’ra mim que não tenho que diga

Fez-se manhã, é pouca a gasolina

Apenas faço por seguir a luz.

Thursday, August 6, 2009

fátua

é p' la noite mais alta que te sinto
quando me vestes a lua de silêncio
e me escorres um calafrio imenso
a impedir a tua à minha pele

não entendo se vens via do vento
não percebo se transportas o escuro
sei que a lembrança não passa de um intento
de virar o passado pró futuro

e é assim uma música ao longe
o teu nulo perfume o meu desejo
a desferir a dor que me acendeste

nada trago dentro porque nada me deste
mas guardo algures o luar que te invento
um dia o sol dirá se prevalece



Tuesday, July 14, 2009

Thirteen Ways of Looking at a Blackbird

I

Among twenty snowy mountains,
The only moving thing
Was the eye of the blackbird.

II
I was of three minds,
Like a tree
In which there are three blackbirds.

III
The blackbird whirled in the autumn winds.
It was a small part of the pantomime.

IV
A man and a woman
Are one.
A man and a woman and a blackbird
Are one.

V
I do not know which to prefer,
The beauty of inflections
Or the beauty of innuendoes,
The blackbird whistling
Or just after.

VI
Icicles filled the long window
With barbaric glass.
The shadow of the blackbird
Crossed it, to and fro.
The mood
Traced in the shadow
An indecipherable cause.

VII
O thin men of Haddam,
Why do you imagine golden birds?
Do you not see how the blackbird
Walks around the feet
Of the women about you?

VIII
I know noble accents
And lucid, inescapable rhythms;
But I know, too,
That the blackbird is involved
In what I know.

IX
When the blackbird flew out of sight,
It marked the edge
Of one of many circles.

X
At the sight of blackbirds
Flying in a green light,
Even the bawds of euphony
Would cry out sharply.

XI
He rode over Connecticut
In a glass coach.
Once, a fear pierced him,
In that he mistook
The shadow of his equipage
For blackbirds.

XII
The river is moving.
The blackbird must be flying.

XIII
It was evening all afternoon.
It was snowing
And it was going to snow.
The blackbird sat
In the cedar-limbs.

Wallace Stevens

I Wanna Be Around

I wanna be around to pick up the pieces

When somebody breaks your heart

Some somebody twice as smart as I

A somebody who will swear to be true

As you used to do with me

Who'll leave you to learn

That mis'ry loves company, wait and see

I mean, I wanna be around to see how he does it

When he breaks your heart to bits

Let's see if the puzzle fits so fine

And that's when I'll discover that revenge is sweet

As I sit there applaudin' from a front-row seat

When somebody breaks your heart

Like you, like you broke mine


Sadie Vimmerstedt / Johnny Mercer

Monday, July 13, 2009

Stille nachts

Es ist so still, ich kann das Atmen hören,
durch den Stein, das Holz der Wand.
Wind schleift gemächlich feuchte Tücher
über stumme Dächer durch die Nacht.
Ich kann den Regen hören unten
auf dem Blech der Wagen hinterm Haus,
das Spiel der Tropfen, von den Wänden
üben sie den Sturz ins Pfützengrab.
Es ist so still, ich kann mich selbst nicht hören,
bin verschollen, eingerollt in rauhe Wolle,
schwarze Fäden bilden Muster auf der Haut.
Es ist so still, ich will nichts wissen,
das, was nicht ist, scheint mir vertraut.
Es ist so still, ich bin verschwunden.
Vor dem Fenster liegt die Welt.

Susanne Sarfatti

tudo ou nada

o tempo treme-nos o mármore
fissura-nos sentidos
mergulha-nos sem fundo
no sorriso do gato
de schroder ou alice

no fundo este sorrir ao nada
é perpendicular ao tempo
tempo que lava nada à excepção
do ponto de intersecção

por isso nada ou tudo cabem
nessa mão

Thursday, July 9, 2009

Untitled

dizemos quem nos dera ser água

e o barro sobe-nos corpo acima


dizemos somos o que parecemos

e afinal a supercola funcionou


dizemos somos o que somos

ou a medida de todas as coisas

e o zero que inventámos trata de nós


dizemos não te esqueças

do que ías a dizer e um outro

sussurra ou grita mais alto que nós

e o tempo nos faz a pouco e pouco

pouco de nós


mudos por fim dizemos isto é pensamos

por entre as as sinapses dos sentidos

que algo ou alguém não fechou ou abriu

uma janela sobre o tapume à frente

sobre o sem fim da terra ou do ar ou da água ou do fogo


então ou logo mais talvez haja contra o tempo um lugar

um espaco em disco para conter converter

ou simplesmente actualizar

o software do avesso ao direito

entre a máquina e o coração

Wednesday, July 8, 2009

Kühler Morgen

Jetzt ist die Luft viel kühler

und schweben in der Sonne
müde Vögel früh am Tag.
Jetzt sind die Wege leerer
und laufen später keine
Frühaufsteher nebenher.
Jetzt ist der Himmel aufgespannt.
Spricht mit den Schatten
auf den Feldern. Hatten beide
in der Nacht nicht Zeit genug.
Jetzt ist der Rand der Welt
weit weg. Sie fällt mir,
wo die Straße endet, fort,
doch immer findet sich bald mehr.
Jetzt bin ich wach. Ich atme.
Alles lebt in mir. Und gut.

Susanne Sarfatti

aus SuMuze/Susannes Weblog

all blues

não se vê água porque roubaste o azul

não se vê céu porque vestiste o sol


isto é o que se vê


desde os prismas e espelhos do dia

aos mil e um tons dos silêncios da noite

tudo na tua cor concentras


assim

se o ódio pode ser vermelho

o amor é azul


por fim

Friday, June 26, 2009

Faz pouco mais de um mês que o Fernando João...

... Anda fugido. Entre o Allard J2, o Aurelia B20, o Ferrari 166 e o Giulietta Spider Veloce Conrero, deve ter muito com que se entreter entre dois Auchentoshan (provavelmente o melhor scotch do Mundo).

Wednesday, June 24, 2009

Águas correntes

“Here lies one whose name was writ in water.” John Keats

se me deixares escrever na tua água viva

deixo-te escolher o tipo o corpo o estilo

em que em me podes escrever de volta

a favor ou contra a corrente

 

e se me escreveres da tua alegria

(onde a irás buscar eu não sei bem)

pode ser que o sol nasça mais cedo

e acenda duas sombras na paisagem

até ao inaudível de um sorriso

até à tinta invisível da mágoa

ED È’ SUBITO SERA

Ognuno sta solo sul cuor della terra

trafitto da un raggio di sole:

ed è subito sera

Salvatore Quasimodo in Acque e terre (1920-1929)


Cada um de nós só no coração da terra

trespassado por um raio de sol:

e de súbito é noite

dança da chuva

lava-me

chuva

a alma das incandescências

leva-me a pele das cinzas frias da noite

lava-me o olhar das lágrimas supostas

tinindo sob o duche


lava-me e leva-me entre rios de sol

cascatas de palavras cristalizadas

entre as notas do acorde leva-me

e lava-me os ouvidos ao teu silêncio

à transparência tua

ao teu sim ao teu não

NABOKOV, Vladimir (1899-1977)

Pale fire (ext.)

I was the shadow of the waxwing slain
By the false azure in the windowpane;
I was the smudge of ashen fluff--and I
Lived on, flew on, in the reflected sky.
And from the inside, too, I'd duplicate
Myself, my lamp, an apple on a plate:
Uncurtaining the night, I'd let dark glass
Hang all the furniture above the grass,
And how delightful when a fall of snow
Covered my glimpse of lawn and reached up so
As to make chair and bed exactly stand
Upon that snow, out in that crystal land!

Feu pâle

C'était moi l'ombre du jaseur tué

Par l'azur trompeur de la vitre;

C'était moi la tache de duvet cendré - et je

Survivais, poursuivant mon vol, dans le ciel réfléchi.

Et de l'intérieur, également, je savais reproduire

Mon visage, ma lampe, une pomme sur une assiette:
Dévoilant la nuit, je laissais la vitre obscure

Suspendre le mobilier au dessus de l'herbe,

Et quelles délices quand une chute de neige

Couvrait ce bout de gazon, s'amoncelant assez

Pour que chaise et lit se tienne exactement

Sur cette neige, là-bas sur cette terre de cristal !

Trad. Girard / Coindreau

Wet Wake

sei que não quero dormir esta noite

se abres a porta sobre um sonho meu

podes parecer quem eu sonho que amo

 

lembro esse sorriso que me pertence

sonho eu

e o sono esvai-se

 

tudo porque tenho saudades tuas

e posso morrer a dormir

Paulo Hasse Paixão e o seu Blogville

Encontrei-os nas piores circunstâncias possíveis, a morte de um enorme amigo comum que inspirou o Paulo a compor um belíssimo blogrequiem. Requiem e resto vivamente recomendados.